Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas / Departamento de Antropologia
Disciplina: Antropologia e Gênero Código: FLA 0362 2. Disciplina prioritária ou indicação de conjunto: 3. Curso: Ciências Sociais / Créditos - 4 Professora responsável: Heloisa Buarque de Almeida
Objetivos: Esta disciplina visa introduzir os alunos da graduação na área dos estudos de gênero, com um enfoque que aproxima a antropologia com outras áreas das humanidades. Gênero tornou-se uma categoria e uma reflexão teórica muito relevante nas ciências humanas nas últimas três décadas. Sua produção teórica específica tem tido um desenvolvimento e uma produção crescente desde a década de 1970, em diálogo com as teorias sociais, com reflexões acerca das formas de poder e de desigualdade que são social e culturalmente produzidas. Os debates sobre gênero dialogam intensamente com as revisões acerca dos conceitos de sociedade, natureza, cultura, poder, violência, e com as questões de direitos humanos.
A disciplina apresenta a área dos estudos de gênero mostrando inicialmente sua relação com os debates fundamentais da antropologia (como a dicotomia natureza/cultura). Reconhecendo as relações desta área com a questão das formas de poder, a disciplina aponta para a forma como o conceito de gênero advém dos estudos sobre mulheres e dos estudos feministas. Nesse debate com os trabalhos sobre mulheres e com as propostas feministas, a disciplina explora também o problema contemporâneo da identidade e de seu papel político. A partir da bibliografia que construiu a noção de gênero nos anos
25 e 26 de fevereiro de 2008
Apresentação do programa com aula introdutória sobre gênero na antropologia e o trabalho pioneiro de Margaret Mead. Distribuição de seminários entre os grupos, apresentando os textos e os roteiros de leitura. Leitura e comentários do texto de Bila Sorj: “O estigma das feministas”.
Vídeo: Margaret Mead
3 e 4 de março de 2008
Algumas reflexões sobre o corpo e sobre as relações entre homens e mulheres na teoria antropológica
Leituras obrigatórias (2 seminários):
MAUSS, Marcel: “As Técnicas do Corpo” in: Sociologia e Antropologia, São Paulo, Cosac e Naify, 2003 (na edição mais antiga: “As Técnicas Corporais”)
CLASTRES, Pierre: "O arco e o cesto" in: A Sociedade Contra o Estado, Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1978.
Leituras complementares e referências que serão apresentadas em aula:
MEAD, Margaret: Sexo e Temperamento, São Paulo, Ed. Perspectiva, 1999. Introdução, “A padronização do temperamento sexual”, “O inadaptado”, Conclusão.
DOUGLAS, Mary: Pureza e Perigo, Lisboa, edições 70, 1991 - Introdução, “Poderes e perigos” e “Limites externos”
Revisão do cronograma: passar alguns textos, como do Mauss, como supostos e já conhecidos, e sugestões de leituras para quem não os conhece.
Incluir artigos com mais conteúdos empíricos e resultados de pesquisa, dialogando com a teoria:
Miguel Vale de Almeida: “Género, Masculinidade e Poder: revendo um caso do sul de Portugal”, Anuário Antropológico/95, RJ, Tempo Brasileiro, 1996
Artigos dos cadernos pagu – artigo da Guita e Marcella sobre violência doméstica; artigo de Osmundo sobre raça e gênero (n. 23); Amélio Robles (n. 22), para refletir melhor sobre intersecções e desigualdades Kamala Kempadoo (n. 25). Naara Luna sobre NTR (n. 21) e talvez o seguinte sobre aborto (a verificar).
no Gênero em Matizes: Artigo da Érica, da Paula?
O trajeto entre Mulheres, Feminismo e Gênero na reflexão da Antropologia
Leitura obrigatória:
FRANCHETO, Bruna, CAVALCANTI, M. L. V. C., HEILBORN, M. L.: "Antropologia e Feminismo", Perspectivas Antropológicas da Mulher. Rio de Janeiro, Zahar, vol.1, n.1, 1981.
– colocar como leitura complementar?
Leituras complementares e textos usados para preparar aula:
MAUSS, Marcel: “Uma categoria do espírito humano: a noção de pessoa, a de ‘eu’.” in: Sociologia e Antropologia, São Paulo, Cosac e Naify, 2003
DUMONT, Louis: O Individualismo, Rocco, Rio de janeiro, 1993 – Introdução
PISCITELLI, Adriana. “Recriando a (categoria) mulher?”. In: Leila Algranti (org.) “A prática feminista e o conceito de gênero”. Textos Didáticos, nº 48. Campinas, IFCH-Unicamp, 2002, pp. 7-42.
ROSALDO, Michelle "O uso e o abuso da antropologia: reflexões sobre o feminismo e o entendimento inter-cultural". Horizontes Antropológicos, ano 1, n.1. 1995
17 e 18 de março de 2008 – semana da pátria
Debate inicial sobre a passagem natureza e cultura, e o começo do uso do termo “gênero” na antropologia.
Leituras obrigatórias:
LÉVI-STRAUSS, Claude: "A família", in: SHAPIRO, Harry: Homem, cultura e sociedade, Ed. Fundo de Cultura, 1956 (há uma versão do mesmo texto em O olhar distanciado - capítulo 3)
RUBIN, Gayle: “O Tráfico de Mulheres: notas sobre a ‘economia política’ do sexo”, tradução de Júlio Simões do artigo originalmente publicado em: REITER, Rayna (Ed.): Toward an Anthropology of Women. Nova York, Monthly Review, 1973. (especial atenção à introdução, da pág.
Leituras complementares e textos usados para aula:
MATHIEU, Nicole-Claude: “Homme-culture e femme-nature?” L’Homme, Tomo XII, 1973, n. 3
MACCORMACK , Carol: “Nature, Culture and Gender: a critique” in: Carol MACCORMACK e Marilyn STRATHERN, (orgs.) Nature, culture and gender. Cambridge, Cambridge University Press, 1980.
ROSALDO, Michelle e LAMPHERE, Louise: A Mulher, A Cultura, A Sociedade, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1979 [1972]
31 de março e 1 de abril de 2008
Ainda no debate natureza X cultura – debates contemporâneos a partir da desconstrução da “natureza” do sexo por Michel Foucault
Leitura obrigatória:
FOUCAULT, Michel: História da Sexualidade – A vontade de saber, Vol. 1, Rio de Janeiro, Graal, 1977 (capítulo I, capítulo IV partes 1, 2 e 3, e capítulo V)
7 e 8 de abril de 2008
Na trilha de Foucault: a desconstrução da “natureza” da diferença entre os sexos
Leitura obrigatória:
LAQUEUR, Thomas: Inventando o sexo: corpo e gênero dos gregos a Freud, Rio de Janeiro, Relume-Dumará, 2001 – capítulos 1 e 6
Leitura complementar:
ROHDEN, Fabíola: “O corpo fazendo a diferença”, Mana, v.4 n.2 Rio de Janeiro out. 1998 (disponível no scielo)
14 e 15 de abril de 2008
Sobre o conceito de Gênero e seus usos (indicar em aula as contribuições posteriores, Butler, Haraway, Lauretis)
Leituras obrigatórias:
SCOTT, Joan: “Gênero: uma categoria útil de análise histórica”, Educação e Realidade, Porto Alegre, 16 (2), jul-dez 1990, pp. 5-22 (ATENÇÃO: NÃO usem
traduções incompletas desse texto que circulam pela internet, nem mesmo a tradução feita pelo SOS Corpo – estão INCOMPLETAS e não apresentam todo o argumento)
– colocar como leitura complementar
(21 de abril – feriado)
22 de abril de 2008
Revisão para turma da noite, alunos da tarde podem comparecer. Aula dialogada, tirar dúvidas, rever textos.
Prova escrita e individual sobre toda matéria, feita em sala, sem consulta.
Leituras obrigatórias:
PISCITELLI, Adriana. “Nas fronteiras do natural. Perspectivas feministas, gênero e parentesco”. Revista Estudos Feministas, Rio de Janeiro, v. 6, n. 2, p. 305-323, 1998.
STRATHERN, Marilyn: "Necessidade de Pais e Necessidade de Mães" Estudos Feministas, Vol. 3, n. 2, 1995.
Livro usado para complementar a aula:
YANAGISAKO, Sylvia e COLLIER, Jane. (orgs.) Gender and kinship: essays toward a unified analysis. Stanford:
STRATHERN, Marilyn. Reproducing the future: anthropology, kinship and the new reproductive technologies. Manchester: Manchester University Press, 1992.
12 e 13 de maio de 2008
O problema da identidade e Refletindo sobre as intersecções – gênero e raça
Leituras obrigatórias:
HALL, Stuart: A Questão da Identidade Cultural, Textos Didáticos n. 18, IFCH-Unicamp, 1995 (ou A questão da identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro, DP&A, 1999 – são duas edições do mesmo texto)
STOLCKE, Verena: “Sexo está para gênero assim como raça para etnicidade?”, Estudos Afro-Asiáticos, n. 20, 1991
Leituras complementares:
BARTH, Frederik: “Grupos étnicos e suas fronteiras” in: POUTIGNAC, P. et al: Teorias da Etnicidade, São Paulo, Ed. UNESP, 1998.
CARNEIRO DA CUNHA, Manuela: “Etnicidade: da cultura residual, mas irredutível” in: Antropologia do Brasil, São Paulo, Brasiliense/EDUSP, 1986
BRAH, Avtar: “Diferença, diversidade, diferenciação”, cadernos pagu, 26, 2006, pp. 329-376
APPIAH, Kwame Anthony: Na casa de meu pai, Contraponto, 1997 (prefácio, capítulo 2)
19 e 20 de maio de 2008 Gênero, sexualidade e novas inflexões ao conceito de gênero
Leituras obrigatórias:
BUTLER, Judith. Problemas de Gênero. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2003. Prefácio, Capítulo 1 (itens 1, 2, 3 e 4) e Conclusão
HARAWAY, Donna: “‘Gênero’ para um dicionário marxista”, cadernos pagu, 22, 2004, pp.201-246
26 e 27 de maio de 2008 Problemas de direitos humanos e de justiça
Leituras obrigatórias:
NADER, Laura: “Num Espelho de Mulher: Cegueira normativa e questões de direitos humanos não resolvidas”, Horizontes Antropológicos, ano 5, n.10, 1999
FRASER, Nancy: “Da redistribuição ao reconhecimento? Dilemas da justiça numa era ‘pós-socialista’”, Cadernos de Campo, n.14/15, ano 15, 2006.
Leituras complementares:
FRASER, Nancy: “O que é crítico na teoria crítica? Habermas e gênero”, ex aequo (Revista da associação portuguesa de estudos sobre as mulheres), n. 8, 2003. Publicado originalmente em BENHABIB, Seyla e CORNELL, Drucilla: Feminism as Critique – on the politics of gender,
2 e 3 de junho de 2008 Trabalho final, individual: escolher um artigo e fazer uma resenha, mostrando as relações entre a pesquisa que trata o artigo e alguns dos textos lidos na disciplina. Até 3 páginas, espaço 1,5, letra tamanho 12.
Escolher por tema de interesse do aluno, opções abaixo:
- Miguel Vale de Almeida: “Género, Masculinidade e Poder: revendo um caso do sul de Portugal”, Anuário Antropológico/95, RJ, Tempo Brasileiro, 1996
- ENGEL, Magali: “Psiquiatria e Feminilidade”
- Elisiane Pasini: “Prostituição e diferenças sociais” in: H.B. Almeida et alli (orgs.) Gênero em Matizes, Bragança Paulista, EDUSF, 2001
- Paula Camboim de Almeida: “Gravidez na adolescência em grupos populares urbanos: concepções de idade e maternidade”, in: H.B. Almeida et alli (orgs.) Gênero em Matizes, Bragança Paulista, EDUSF, 2001
- Érica Renata de Souza: “Construindo ‘masculinidades femininas’: educação, corpo e violência na pré-adolescência”, in: H.B. Almeida et alli (orgs.) Gênero em Matizes, Bragança Paulista, EDUSF, 2001
- Flavia de Mattos Motta: “ ‘O sexo dos anjos’: gênero e representações sobre os animais no litoral catarinense”, in: H.B. Almeida et alli (orgs.) Gênero em Matizes, Bragança Paulista, EDUSF, 2001
- Daniel S. Simião: “Itinerários transversos – gênero e o campo das ONGs no Brasil” , in: H.B. Almeida et alli (orgs.) Gênero em Matizes, Bragança Paulista, EDUSF, 2001
- Maria Celeste Mira: “O masculino e o feminino nas narrativas da cultura de massas ou o deslocamento do olhar”, Cadernos Pagu, n. 21, 2003 (pegar no www.scielo.br)
- Gabriela Cano: “Amélio Robles, andar de velho soldado: fotografia e masculinidade na Revolução mexicana”, Cadernos Pagu, n. 22, 1004 (pegar no www.scielo.br)
- Osmundo Pinho: “O efeito do sexo: políticas de raça, gênero e miscigenação”, Cadernos Pagu, 23, 2004
- Paula Sandrine Machado: “O sexo dos anjos: um olhar sobre a anatomia e a produção do sexo (como se fosse) natural”, Cadernos Pagu, n.24, 2005
- Kamala Kempadoo: “Mudando o debate sobre o tráfico de mulheres”, Cadernos Pagu, n. 25, 2005
- Martha Célia Ramirez: “A propriedade do corpo – o lugar da diferença nos discursos de homens e mulheres acerca do aborto voluntário”, Cadernos Pagu, n. 15, 2000
- Alinne de Lima Boneti: “Entre femininos e masculinos: negociando relações de gênero no campo político”, cadernos pagu, n. 20, 2003
- Claudia Fonseca: “Ser mulher, mãe e pobre”
- Mariza Corrêa: “Repensando a Família Patriarcal Brasileira” in Arantes, A.A. et al: Colcha de retalhos – estudos sobre família no Brasil, Campinas, Ed Unicamp, 1993
- Suely Kofes: “Entre nós mulheres, elas as patroas e elas as empregadas” in Arantes, A.A. et al: Colcha de retalhos – estudos sobre família no Brasil, Campinas, Ed Unicamp, 1993
Outras referências bibliográficas complementares:
Bronislaw Malinowski. A vida sexual dos selvagens. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1983 (edição esgotada).
Edmund Leach “Nascimento Virgem” in: Roberto Da Matta (org.) Edmund Leach , São Paulo, Editora Ática.
Claude Lévi-Strauss: Estruturas Elementares do Parentesco, Petrópolis, Vozes, 1982 (capítulos
Marilyn Strathern. O Gênero da Dádiva, Campinas, Ed. Unicamp, 2007 (capítulos a definir)
Anne Fausto-Sterling. “Dualismos em duelo”. cadernos pagu, 17/18, 2002, p.9-79.
Beth Lobo: “A vida como obra”. cadernos pagu, 12, 1999, pp.55-58
Martha Ramirez: “Do centro à periferia: os diversos lugares da reprodução nas teorias de gênero” in H.B. Almeida et alli (orgs.) Gênero em Matizes, Bragança Paulista, EDUSF, 2001
Donna Haraway: “Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial”, cadernos pagu, 5, 1995, pp.7-41
Josefina Fernández: “Los cuerpos del feminismo” (mimeo)
Stuart Hall: “Que ‘negro’ é esse na cultura negra?” in: Da Diáspora: identidades e mediações culturais, Belo Horizonte, Ed. UFMG, 2003
Judith Butler: “Fundamentos contingentes: o feminismo e a questão do ‘pós-modernismo’” cadernos pagu, n. 11, 1998.
Miguel Vale de Almeida: “Género, Masculinidade e Poder: revendo um caso do sul de Portugal”, Anuário Antropológico/95, RJ, Tempo Brasileiro, 1996
Henrietta Moore: “Fantasias de poder e fantasias de identidade: gênero, raça e violência” cadernos pagu, 14, 2000, pp.13-44
Teresa De Lauretis, "A Tecnologia do Gênero" in: Heloisa Buarque de Hollanda (org.), Tendências e Impasses - O Feminismo como Crítica da Cultura, Rio de Janeiro, Rocco, 1994.
Pierre Bourdieu “A Dominação Masculina”. Educação e Realidade, n.20, vol. 2, 1995.
Mariza Corrêa: “O Sexo da Dominação” Novos Estudos CEBRAP, n. 54, Julho, 1999.
Mariza Corrêa: “Fantasias Corporais” in: Adriana Piscitelli, Maria Filomena Gregori e Sérgio Carrara: Sexualidades e Saberes: Convenções e Fronteiras, Rio de Janeiro, Garamond, 2004
Maria Filomena Gregori: “Relações de violência e erotismo”. cadernos pagu, 20, 2003, pp. 87-120.
FLS5234 – Estudos de Sexualidade, Gênero e Corporalidade
Professor responsável: Júlio Assis Simões
Primeiro Semestre 2009
A pesquisa e a reflexão contemporâneas sobre sexualidade nas ciências sociais têm insistido num conjunto instigante e fértil de proposições teóricas e programáticas. O ponto de partida é a conceituação da sexualidade como produto histórico, associado modernamente a estratégias de regulação e disciplina social. Esse enfoque salienta a importância das chamadas “minorias sexuais” para a o exame dos processos de reprodução e naturalização das idéias dominantes sobre sexo e gênero. Contribui também para questionar o caráter supostamente estável das categorias e identidades sexuais, ao chamar atenção para sua fluidez e fragmentação interna; investigando as dissociações entre desejo, comportamento e identidade, e documentando os modos como sexualidades, gêneros e corpos são feitos na prática cotidiana, ao longo das trajetórias de vida e da experiência social.
Embora essas preocupações, muitas vezes, apareçam como desenvolvimentos recentes – notadamente como resultante do inegável impacto da obra de Michel Foucault e de seus desdobramentos em certas vertentes do pensamento feminista, dos estudos gays e lésbicos e da chamada teoria queer – é possível rastrear sua relevância em tradições estabelecidas na sociologia e na antropologia, especialmente as teorias sobre a construção social da realidade, que frutificaram em abordagens como o interacionismo simbólico, os estudos sobre “desvio”, “estigma” e “rotulação”, bem como as reflexões sobre os perigos e poderes socialmente atribuídos à ambigüidade e à marginalidade.
Este curso procura oferecer uma visão dos desenvolvimentos dessas idéias e sua repercussão, situando criticamente o interesse que o tema da sexualidade têm despertado nas ciências sociais e no debate público. Na primeira unidade, trabalharemos a diversidade das expressões históricas e culturais da sexualidade, estabeleceremos a articulação entre sua regulação e sua produção social nas chamadas sociedades modernas e ressaltaremos o caráter estratégico das formas de conhecimento, controle e resistência das sexualidades “periféricas”, “minoritárias” ou “anormais” para a emergência tanto desse campo de estudos como de sua arena de lutas sociais. Na segunda unidade, revisitaremos algumas abordagens clássicas da sexualidade nas ciências sociais, com vistas a avaliar sua relevância para a conformação das tendências teóricas e metodológicas que norteiam o campo de estudos atuais. Na terceira unidade, refletiremos sobre alguns aportes na teoria e na pesquisa mais recentes, considerandos continuidades e deslocamentos em relação às tradições referidas e novas perspectivas postas pelo estudo da sexualidade e suas materializações em produções corporais e práticas sociais, em conexão com outros marcadores de diferença. Ao longo do curso daremos destaque à significativa produção realizada no Brasil.
Espera-se que os estudantes participem ativamente das discussões em classe, bem como redijam obrigatoriamente um ensaio final individual, como parte da avaliação. O curso demandará uma carga apreciável de leitura – e a leitura de textos em inglês é requisito fundamental para acompanhá-lo. Leituras complementares serão indicadas oportunamente em cada sessão. Além disso, sendo um curso avançado, em nível de pós-graduação, ele pressupõe o domínio de um conjunto de referências básicas sobre sexualidade e gênero nas ciências sociais. A avaliação será feita com base na participação nas atividades em classe, que podem incluir a preparação de seminários, a combinar, e a elaboração do ensaio final. Este poderá consistir em uma reflexão sobre temas específicos de pesquisa de cada estudante, desde que promova um diálogo efetivo com a bibliografia discutida nas diversas unidades.
Cronograma
24/mar
1. Introdução ao curso e à temática: sexualidade nas ciências sociais. Apresentação da disciplina e seu cronograma. Apresentação dos alunos. Organização das atividades
- Jeffrey WEEKS. O corpo e a sexualidade. In: Louro, Guacira Lopes, org. O corpo educado. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2000, p. 35-81.
- Carole VANCE. A antropologia redescobre a sexualidade. Physis, 5 (1995): 7-32.
Unidade 1 – Por uma visão desnaturalizante e histórica da sexualidade.
31/mar
2. Sexualidade e diversidade histórico-cultural: leituras etnográficas
- Paul VEYNE, Sexo e poder
- Pierre CLASTRES. O arco e o cesto. In: Clastres, P. A sociedade contra o Estado.
- Gilbert HERDT. Guardian of the flutes: idioms of masculinity. Chicago, The
- Maria Luiza HEILBORN. Construção de si, gênero e sexualidade In: Heilborn. M. L., org. Sexualidade: o olhar das ciências sociais. Rio de Janeiro; Jorge Zahar Editores, 1999.
- Don KULICK. Travesti: prostituição, sexo, gênero e cultura no Brasil. Rio de Janeiro, Fiocruz, 2008. Cap. 3: Um homem na casa.
07/abr – Feriado da Semana Santa
14/abr
3. Regulação social e produção social da sexualidade: o foco nas “sexualidades periféricas”.
- Michel FOUCAULT. História da sexualidade 1 – A vontade de saber. [1977]. Rio de Janeiro, Graal, Rio de Janeiro, Graal, 2001, 14ª. Ed.
21/abr – Feriado de Tiradentes
- Definir os temas do ensaio final e apresentar uma proposta por escrito na aula seguinte.
28/abr
4. Situando uma “ideologia sexual moderna”: o sexo como fonte primordial de autodefinição pessoal. A tradição da sexologia médica em questão.
- Paul ROBINSON, A modernização do sexo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1977. Cap. 1,
- Jeffrey WEEKS. Sexuality and its discontents: meanings, myths and modern sexualities. Routledge & Kegan Paul, 1985. Cap. 4: ‘Nature has nothing to do with it’: the role of sexology.
- Ann Marie SOHN. O corpo sexuado. In: Corbain, A; Courtine, J.-J.; Vigarello, G., org. História do corpo 3 – As mutações do olhar. O século XX. Petrópolis, Vozes, 2008.
- Paula Sandrine MACHADO. Intersexualidade e o “consenso de Chicago”: as vicissitudes da nomenclatura e suas implicações regulatórias. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 68 (2008) 109-123.
Unidade 2 – Revisitando abordagens socioantropológicas da sexualidade
05/mai
5. Revisitando as teorias da construção social: reflexões sobre homossexualidade masculina, papel social e identidade política.
-Mary MCINTOSH. The homosexual role. [1968]. In: Nardi, P. & Schneider, B., org. Social perspectives in lesbian and gay studies. Londres: Routledge, 1998.
-John
- Peter FRY. Da hierarquia à igualdade: a construção histórica da homossexualidade no Brasil. In: Fry, P. Para inglês ver: identidade e política na cultura brasileira. Rio de Janeiro: Zahar, 1981, cap. 4.
- John D’EMILIO. Capitalism and gay identity. In: Abelove, H; Barale, M; Halperin, D., org. The lesbian and gay studies reader. Londres: Routledge, 1993.
-Sergio
12/mai
6. Revisitando o interacionismo simbólico (1). Paradoxos do estigma: a construção de identidades e estilos de vida.
- Howard BECKER. Outsiders: estudos de sociologia do desvio. [1963] Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008. Cap.1: Outsiders; Cap. 2: Tipos de desvio: um modelo seqüencial.
- Erving GOFFMAN. Estigma. [1963] Rio de Janeiro, LTC, 1998, Cap. 1: Estigma e identidade social; Cap. 2: Controle de informação e identidade pessoal.
- Kenneth PLUMMER. O tornar-se gay: identidades, ciclos de vida e estilos de vida no mundo homossexual masculino. In: Hart, J. e Richardson, D., org. Teoria e prática da homossexualidade. Rio de Janeiro: Zahar, 1983, cap. 4.
- Carmen Dora GUIMARÃES. O homossexual visto por entendidos. Rio de Janeiro: Garamond, 2004. Cap. 3: Da semelhança à diferença.
- Isadora Lins FRANÇA. Sobre guetos e rótulos: tensões no mercado GLS na cidade de São Paulo. cadernos pagu, 28 (2007):65-99.
19/mai
7. Revisitando o interacionismo simbólico (2). Sobre a fluidez e a instabilidade das categorias e identidades sexuais.
- Albert J. REISS, JR. The social integration of queers and peers. [1961] In: Nardi, P. & Schneider, B., org. Social perspectives in lesbian and gay studies. Londres: Routledge, 1998.
- Laud HUMPHREYS. Tearoom trade: impersonal sex in public places. [1970]. New Brunswick: Aldine Transaction, 2009. Capítulos a indicar.
- Néstor PERLONGHER. O negócio do michê. [1987] São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2008. Capítulos a indicar.
26/mai
8. Revisitando o interacionismo simbólico (3). Sexualidade e gênero como performances
- Erving GOFFMAN. A apresentação do eu na vida cotidiana [1959]. Petrópolis, Vozes, 1975. Introdução e Cap. 6: A arte de manipular impressões.
- Harold GARFINKEL. Passing and the managed achievement of sex status in an “intersexed” person. [1967] In: Stryker, S. & Whittle, S. org. The transgender studies reader. Londres; Routledge, 2006.
- Esther NEWTON. Mother Camp: female impersonators in
- Rosemary LOBERT. A palavra mágica dzi: uma resposta difícil de perguntar. Dissertação de Mestrado não-publicada. Unicamp, 1979. Introdução e Parte I – O Espetáculo.
Unidade 3 – Continuidades, deslocamentos e perspectivas: sobre alguns aportes recentes na teoria e na pesquisa sobre sexualidade
02/jun
9. Estratificação sexual e desestabilização identitária: teoria queer, política e representação de sexo/gênero.
- Gayle RUBIN, Pensando sobre sexo: notas para uma teoria radical da política da sexualidade (Tradução em português de circulação restrita). In: Abelove, H; Barale, M; Halperin, D., org. The lesbian and gay studies reader. Londres: Routledge, 1993.
- Eve Kosofsky SEDGWICK. A epistemologia do armário. cadernos pagu, 28(2007):19-54.
- Richard MISKOLCI. Comentário [à “epistemologia do armário]. cadernos pagu, 28 (2007):55-63.
9/jun
10. Gênero e performatividade: sobre corpos abjetos e além.
- Judith BUTLER. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2003. Cap.1; parte 4 do Capítulo 3 (Inscrições corporais, subversões performativas), e Conclusão.
- Mary DOUGLAS. Pureza e perigo. São Paulo: Perspectiva, 1976. Introdução e cap. 6.
- Berenice BENTO. Da transexualidade oficial às transexualidades. In: Piscitelli, A.; Gregori, M. F.; Carrara, S., org. Sexualidades e saberes: convenções e fronteiras.
- Larissa PELUCIO. Na noite nem todos os gatos são pardos: notas sobre prostituição travesti. cadernos pagu, 25 (2005): 217-248.
- Andréa LACOMBE. De entendidas e sapatonas: socializações lésbicas e masculinidades em um bar no Rio de Janeiro. cadernos pagu, 28 (2007):207-225.
16/jun – Seminário Diálogos Brasil-EUA
23/jun
11. Marcadores de diferença, categorias articuladas e interseccionalidades
- Donna HARAWAY. Gênero para um dicionário marxista: a política sexual de uma palavra. cadernos pagu 22 (2004): 201-246.
- Anne McCLINTOCK. Couro imperial. Raça, travestismo e culto da domesticidade. cadernos pagu, 20 (2003): 7-85.
- Avtar BRAH. Diferença, diversidade, diferenciação. cadernos pagu, 26, (2006): 329-376.
- Adriana PISCITELLI. Interseccionalidades, categorias de articulação e experiências de migrantes brasileiras. Sociedade e Cultura, Universidade Federal de Goiânia (no prelo).
- Laura MOUTINHO. Negociando com a adversidade: reflexões sobre “raça”, (homos)sexualidade e desigualdade social no Rio de Janeiro. Estudos Feministas, 14[1] (2006): 15-41.
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30/jun
12. Encerramento: Perspectivas sobre corpo, pessoa e cultura, em diálogo com teorias feministas e antropológicas recentes.
- Marilyn STRATHERN. Entre uma melanesianista e uma feminista. Cadernos pagu, 8/9 (1997): 7-49.
- Donna HARAWAY. Manifesto ciborgue: ciência, tecnologia e feminismo pós-socialista no final do século XX. In: Silva, T. T., org. Antropologia do ciborgue. Belo Horizonte, Autêntica, 2000, p.37-129.
- Edward LIPUMA. Modernity and forms of personhood in Melanésia. In; Strathern, A. & Lambeck, org. Bodies and persons: comparative perspectives from Africa and
- David A.B.
- Cristiane LASMAR. De volta ao lago do leite: gênero e transformação no Alto Rio Negro. São Paulo, Ed. Unesp, 2005. Cap. 4: De trajetórias, identidades e corpos.
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